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É um Tempo de Guerra

Por Ricardo Rabelo

Antigamente havia um ditado que dizia: “ se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Hoje, vivemos um tempo em que as preparações para a guerra andam em ritmo acelerado, embora não pareça haver, por parte dos líderes mundiais, qualquer intenção de paz. Por um lado, as forças da Otan estão realizando seu maior exercício militar desde o fim da URSS, alegando o perigo da ameaça russa, de outro, temos violentos ataques maciços das forças russas em várias direções ao longo da linha de frente de 2.000 quilômetros. Estamos na situação em que a Ucrania já não é mais um ator militar e que ainda não tivemos a consagração da vitória russa, que é paradoxal frente o iminente colapso das forças armadas ucranianas. No último período, a ofensiva russa na região de Kharkiv conseguiu destroçar as forças defensivas do exército ucraniano com sequência de êxitos taticamente muito significativos. Todos sabem que o problema do exército ucraniano é insolúvel, mesmo com aporte de armas pela OTAN, porque há uma enorme perda de efetivos, que dificilmente poderão ser repostos com facilidade. Alguns falam que seria necessário pelo menos mais 500. 000 combatentes outros falam em um milhão, números astronômicos para um país devastado e com a população que resiste ao alistamento. A extensão artificial da guerra obedece a dois objetivos: manter os lucros do complexo industrial militar dos EUA e dos fundos de investimentos, como o famigerado BlackRock e evitar que a Rússia tenha uma vitória acachapante, possibilitando exaurir seus recursos e sua estabilidade política . Como não há chances de reverter a situação no terreno militar tradicional, o imperialismo optou pelas “operações encobertas”. O ministro da Defesa do Reino Unido, almirante Tony Radakin, afirmou ao Financial Times que “os ataques a alvos civis nas profundezas da Rússia devem ser intensificados”. Ou seja, agressão a infraestruturas vitais e áreas civis na própria Rússia para obter o máximo de prejuízos materiais e humanos que leve a população civil russa se insurgir e desestabilizar o presidente Vladimir Putin. Recentemente um atentado destruiu um prédio residencial de 10 andares na cidade russa de Belgorod, que resultou em 18 mortes de civis. A OTAN perdeu os escrúpulos de não atuar diretamente na frente militar, acoplando à entrega de sistemas de mísseis de longo alcance Atacms o envio de soldados, instrutores e engenheiros militares para ajudar a Ucrania a combater a Rússia. Dessa forma o imperialismo estaria optando por uma guerra híbrida contra a Rússia, como reconheceu a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, afirmou que a Ucrânia tem o “direito de atacar” fortemente a Rússia com mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow. O Congresso norte americano, que foi fundamental para liberar o pacote de 60 bilhões de dólares, manifestou-se, através do líder da minoria do Partido Democrata na Câmara, Hakeem Jeffries –favorável à ação direta na Ucrânia, para “ resgatar Volodymir Zelensky”. Já na Europa o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu novamente o envio de tropas da OTAN para a Ucrânia no caso do fracasso total das forças armadas em manter o controle do país. Em resposta essa ofensiva retórica do Ocidente, a Rússia anunciou exercícios com armas nucleares não estratégicas, que podem ser usadas no campo de batalha como dissuasão. A guerra econômica Se no front militar as ameaças de uma guerra mundial se tornam cada vez mais claras, na questão econômica o imperialismo enfrenta uma ameaça igual ou maior que a proporcionada pela iminente vitória das forças russas. Em uma grande reportagem a revista The Economist anunciou que a economia mundial está à beira do colapso, e o inimigo a enfrentar é principalmente a China, que se impõe cada vez mais como o concorrente indesejável da economia capitalista ocidental. Depois de apontar a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC), “The Economist” analisa o fato de que o protecionismo se torna cada vez mais a saída para se enfrentar a concorrência chinesa, o que nega o próprio principio basilar da globalização, que é a unificação do mercado mundial. Em campanha pela polarização, o candidato presidencial Donald Trump ameaça os americanos com um “banho de sangue” se não vencer a eleição e anuncia que aumentará as tarifas sobre produtos chineses de 25% para 60%. O atual presidente, Genocide Joe, que já promove um efetivo tsunami de sangue na Palestina, acaba de aumentar os impostos de importação sobre carros chineses elétricos para 100%. Acompanhando a onda, a UE também vai aumentar os impostos para evitar a presença desenfreada desse produtos chineses no mercado europeu, porque são mais eficientes e baratos do que os da antiquada indústria europeia. As medidas protecionistas tendem a se ampliar para envolver também a propriedade das empresas, que nunca podem ser chinesas ou russas. Já houve o banimento do Tik Tok, que só poderá sera adquirido por empresários norte americanos. Recentemente, o governo do Reino Unido impediu empresários chineses de comprar uma fábrica de chips que, por razões de “segurança nacional”, deverá ser vendida a investidores norte-americanos. A volta do protecionismo também é a volta dos preços diferenciados por país do mesmo produto e o retorno das “políticas industriais”, ou seja, subsídios estatais para a criação de empresas, privadas ou estatais, em solo nacional para garantir a “soberania” e a “autonomia” nacionais nessas áreas. Para não ficar muito aquém da história, os políticos europeus, fervorosos defensores do liberalismo económico, também estão mudando de roupa e assumindo a pretensão soberanista. É um travestimento ideológico forçado pela inferioridade econômica em relação à China. Em um longo discurso proferido em 25 de abril na Sorbonne, o presidente francês Macron estabeleceu sistematicamente o fim da ordem globalista e o retorno à política de fronteira para que a velha Europa “não morra”. Em palavras solenes, a Europa que “comprou sua energia e fertilizantes da Rússia, teve sua produção na China e delegou sua segurança aos Estados Unidos acabou”. É impressionante como Macron passa rapidamente do discurso econômico sobre ser soberano ao discurso militarista. Para garantir a soberania é necessário aumentar a “capacidade de defesa” da Europa, incluindo a capacidade nuclear, e a implantação de “uma economia de guerra” baseada no rearmamento. Ao mesmo tempo, defende Macron, é preciso promover uma política industrial “made in Europe”. Não demonstra nenhum escrúpulo de defender o subsidio a empresas “estratégicas”, um conceito que sempre foi rejeitado pelos liberais. Se os produtos estrangeiros são mais baratos, “devemos proteger nossos produtores” e não “ceder à desindustrialização”, disse Macron na Sorbonne. Convencido pelos rebeldes agricultores franceses sobre a concorrência estrangeira “injusta”, defende também um inusitado “pacote de investimento público” que impulsionaria a economia continental. E o déficit fiscal deixou de ser o vilão do mercado. Os impostos devem ser aumentados, diz Macron: “Impostos fronteiriços” sobre as importações, “impostos sobre as transações financeiras”, “impostos sobre as multinacionais”. Nem mesmo a Cepal, aquela da década de 50 do século 20, liderada pelo economista Raul Prebisch poderia fazer melhor. Evidentemente não se trata de substituir importações, mas de impedi-las e o controle sobre os investimentos “não europeus” em setores sensíveis. O uso de subsídios em larga escala, ainda que seletivamente, despreza o “teto de gastos” do déficit público. No caso dos Estados Unidos, a arma mais utilizada é a política comercial, tendo em vista as decisões anunciadas recentemente. De acordo com as conclusões da revisão quadrienal do comércio com a China, a tarifa sobre os veículos elétricos (VE) chineses importados aumentará para 102,5% este ano, representando 27,5% do total. A revisão foi realizada ao abrigo da Secção 301 da Lei do Comércio de 1974, que permite ao governo retaliar contra práticas comerciais consideradas injustas ou que violam as normas internacionais. De acordo com as diretrizes 301, a tarifa sobre as importações de células solares dobrará para 50% este ano. As tarifas sobre alguns produtos chineses de aço e alumínio aumentarão para 25% este ano. Os pagamentos de chips de computador dobrarão para 50% até 2025. Para baterias VE de íon-lítio, as tarifas aumentarão de 7,5% a 25% este ano. Mas para o mesmo tipo de baterias não VE, o aumento da tarifa será implementado em 2026. Existem também tarifas mais elevadas sobre guindastes de transporte marítimo, minerais críticos e suprimentos médicos. As novas tarifas, pelo menos inicialmente, são em grande parte simbólicas, uma vez que se aplicam apenas a cerca de 18 bilhões de dólares em importações. O Departamento de Comércio divulgou mais cedo seus planos de começar a aceitar no final de junho as aplicações para um programa de US$ 39 bilhões de subsídios à indústria. A lei também cria um crédito fiscal de investimento de 25% para a construção de fábricas de chips. A secretária de Comércio, Gina Raimondo, observou que as empresas beneficiadas serão obrigadas a entrar em acordos que restrinjam sua capacidade de expandir fabricação de semicondutores em países estrangeiros de preocupação dos EUA, como a China, por dez anos após obter financiamento. O financiamento da Guerra Biden assinou uma autorização recorde de US$ 886 bilhões em gastos de “defesa nacional” para 2024, incluindo financiamento para o próprio Pentágono e trabalho em armas nucleares no Departamento de Energia. Esses fundos não incluíram os US$ bilhões destinados à Ucrânia, Israel e Sudeste Asiático, então o montante final deve estar próximo de US$ 1 trilhão. Não é verdade que este investimento em guerra seja “bom para os empregos americanos”, porque os empregos na indústria de defesa caíram drasticamente nas últimas três décadas, de 3,2 milhões na década de 1980 para um milhão hoje. A cada ano, mais da metade do orçamento militar dos EUA é transferido para o setor privado por meio de contratos federais. E o lucro obtido depende do montante de verba federal que recebam, o que faz com que invistam muito no lobby para obter os recursos. O retorno parece valer o preço alto. Por exemplo, durante a guerra no Afeganistão, os cinco principais empreiteiros militares gastaram mais de US$ 1 bilhão em lobby, mas arrecadaram mais de US$ 2 trilhões em contratos federais. O enorme orçamento do Pentágono é projetado para apoiar a Estratégia Nacional de Defesa (NDS) de Biden, que foi divulgada no final de 2022. Essa estratégia prevê a manutenção de 750 bases no mundo, a capacidade de vencer uma guerra com a Rússia ou a China, a preparação para uma guerra com o Irã e/ou a Coreia do Norte e a continuidade de uma guerra global contra o “terrorismo” envolvendo atividades de “contraterrorismo” em aproximadamente 85 países. Há uma grande crítica à eficiência destes gastos. Não é necessário um exército de 452.000 homens, gastando US$ 178,8 bilhões anualmente, para um conflito com a China, que não se baseará numa guerra terrestre prolongada. Comprar novos porta-aviões a US$ 13 bilhões cada não se justifica pois eles são vulneráveis a mísseis de ataque de longo alcance relativamente baratos. E as armas produzidas não provaram a sua eficiência em combate. O Pentágono identificou mais de 800 deficiências não resolvidas no F-35, pelo menos seis das quais podem colocar as tropas em risco de ferimentos ou morte. O mesmo tem ocorrido com os tanques Abrams que tiveram que ser devolvidos aos EUA pela Ucrania, pois não resistiam aos ataques das forças russas. Os EUA e a União Europeia desenvolveram uma serie enorme de sanções contra a Rússia, julgando que isso teria um impacto catastrófico na economia russa. O PIB real deveria ter caído 8,5% segundo o FMI em 2022. Além disso, a inflação deveria ter subido para 24% e a taxa de desemprego ser de 9,3%. Nada disso aconteceu: o PIB caiu apenas -2,1% em 2022 e teve um crescimento de 3,6% em 2023. Além disso, o desemprego permaneceu relativamente baixo, com uma taxa de 3,9% em 2022 e 3,6% em 2023. Quanto à inflação, embora tenha sido de 12,4% em 2022, diminuiu significativamente para 6,3% em 2023, de acordo com dados da Rosstat. Esses resultados podem ser explicados pelos altos preços da energia (que tornaram as sanções financeiras ineficazes), o realinhamento bem-sucedido da logística e o rápido aumento dos gastos militares e relacionados à guerra. Na verdade, os gastos federais russos com “defesa nacional” totalizaram cerca de US$ 50 bilhões em 2022, e os números projetados para 2023 e 2024 são de cerca de US$ 116 bilhões, quase o triplo do nível pré-guerra. Em 2022- 2023, a guerra foi financiada pelo déficit: em 2022, o déficit orçamentário federal foi de 2,3% do PIB, em 2023 foi de 2%, com projeção para 2024 de 0,9%. Outro fator importante também foi um programa de substituição de importações bem conduzido que fez com que a Rússia passasse a produzir internamente bens que antes dependiam da oferta externa. E a aliança com a China, Coréia do Norte e Irã também tiveram um grande papel seja no fornecimento de armas, seja como mercados de consumo para os produtos russos. Além disso, os elevados gastos militares contribuem certamente para o crescimento econômico. A recuperação industrial foi conduzida por aumentos de 70% para veículos automotores e 118% para computadores e equipamentos eletrônicos. Além disso, os altos salários pagos aos soldados que participaram da guerra, bem como as transferências de renda feitas para as famílias de soldados feridos ou mortos, certamente afetaram a renda e os níveis de pobreza em nível nacional. De acordo com o Rosstat, a taxa de pobreza caiu de 11,0% em 2021 para 9,8% em 2022. Em 2024 nos primeiros cinco meses do ano, quase 60% dos gastos com defesa e quase 40% dos gastos com segurança já haviam sido executados. Além disso, muitas obras de reconstrução estão sendo realizadas em áreas ocupadas pela Rússia na Ucrânia, todas fortemente subsidiadas. O keynesianismo militar russo tem sido bastante bem-sucedido no curto prazo. Junto com o aumento dos gastos militares e dos pagamentos sociais, o país viu o crescimento explosivo do complexo militar-industrial e setores relacionados, como microeletrônica e equipamentos elétricos. Tudo isso mostra que o imperialismo não consegue resolver os problemas provocados por seu declínio histórico a não ser através da guerra. O protecionismo e os subsídios estatais são a guerra econômica, um prelúdio da guerra militar. E não há vitórias a comemorar, tanto da guerra na Ucrânia, como em Gaza, onde a resistência palestina sobrevive apesar do assassinato em massa perpetrado por Israel. A saída é a implantação de ditaduras em todos os lugares, com a divulgação de mentiras em escala internacional, em ritmo de preparação da guerra total. Tudo com ajuda, velada ou pública, dos nazistas e fascistas com os quais não há contradições reais. É um tempo de guerra.