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Internacional

O Movimento estudantil dos EUA faz o seu dever de casa

Por Ricardo Rabelo

De repente, como uma faísca em um paiol repleto, o movimento
estudantil nos EUA irrompeu por todos os lados, protestando vigorosamente
contra o genocídio em Gaza e exigindo o desinvestimento das Universidades
norte-americanas nas empresas ou universidades israelenses. Começando na
Universidade de Columbia, onde também começaram os protestos da década
de 60 e 70 contra a Guerra do Vietnã, as manifestações se espalharam por
inúmeros campi, em Nova York e em várias outras cidades dos EUA e mesmo
da Europa.

Polícia invade Universidade e reprime violentamente os estudantes


O questionamento do massacre em Gaza, que visivelmente perdeu
completamente qualquer apoio nas comunidades universitárias, vinha junto
com uma reivindicação que atingiu o cerne dos grandes grupos econômicos
que dirigem as Universidades totalmente privadas dos EUA. A estreita
vinculação dessas Universidades com o massacre em Israel ficou evidente e
atraiu tanta indignação de professores e estudantes quanto as operações
militares de Israel. Como explicar que a academia, devotada à ciência e ao
espírito crítico pudesse estar chafurdando na lama dos criminosos de Israel? E
isso com a anuência dos Conselhos Universitários , com a contribuição
financeira de cada aluno, que pagam altíssimas mensalidades, favorecendo o
lucro dos grupos econômicos totalmente envolvidos no massacre.
A reação de estudantes e professores foi de horror e total repulsa dessa
macabra aliança que estavam fazendo com os assassinos dos palestinos e
passaram a simbolicamente acampar nos campi das Universidades,
pacificamente protestando contra esta situação. Não fizeram sequer uma
ocupação dos prédios das Universidades, como costuma ocorrer no Brasil e
nem levaram, inicialmente, suas reivindicações para as ruas.

E qual foi a reação das autoridades Universitárias? Fazendo coro com
as entidades sionistas e com o próprio governo de Israel, acusaram os
estudantes de antissemitas e praticarem o “discurso de ódio” contra alguns
estudantes judeus sionistas. Começando pela própria Universidade de
Columbia, apelaram para a intervenção da Polícia de Nova York para desalojar
os estudantes de seus acampamentos. A intervenção foi de características
tipicamente militares, com a agressão física violenta aos estudantes, e a prisão
de todo aquele que, de alguma forma, se negasse a sair do campus. A polícia
usou fartamente de bombas de gás lacrimogêneo, de spray de pimenta, de
tiros com balas de borracha e até de blindados para poder retirar estudantes de
seus locais. A fúria com que atacavam os estudantes, e que foi bem registrada
nos vídeos que circularam nas redes sociais, mostrava que se tratava de uma
ação em que os estudantes eram considerados inimigos. A presidenta da
Universidade de Colúmbia não deixou de complementar a violência da polícia
com penalidades que iam das advertências a suspensão e ameaças de
expulsão dos estudantes e demissão dos professores.
O imperialismo na direção da Universidade
A atual presidenta da Universidade de Colúmbia é uma legítima
personagem do sistema imperialista. Antes de ser indicada e tomar posse do
cargo em 4 de Outubro de 2023, Nemat Talaat Shafik, a Baronesa Shafik,
comumente conhecida como Minouche Shafik , é um acadêmica e economista
britânica/americana. . Anteriormente, ela atuou como presidente e vice-
chanceler da London School of Economics de 2017 a 2023.De 2014 a 2017,
Shafik atuou como vice-governador do Banco da Inglaterra (Banco Central
inglês) e também anteriormente como secretária permanente do Departamento
de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido de 2008 a 2011. Ela também
atuou como vice-presidente do Banco Mundial e como vice-diretora-gerente do
Fundo Monetário Internacional. Ou seja, uma expoente, em todos os sentidos,
do sistema imperialista, e ardorosa defensora dos judeus sionistas na
Universidade.
Depois que o conflito Israel-Hamas se intensificou em outubro de 2023,
Shafik emitiu um comunicado dizendo que se “o discurso for ilegal ou violar as
regras da universidade, não será tolerado”. Como resultado dos protestos e da
ocupação do campus por manifestantes pró-palestinos que começaram em 17
de abril de 2024, Shafik pediu ao NYPD para “limpar” o acampamento
estabelecido por manifestantes perto do centro do campus da universidade, e a
polícia prendeu mais de 100 estudantes em 22 de abril. No mesmo dia, ela
anunciou que a universidade havia cancelado as aulas presenciais para passar
para o ensino híbrido. Shafik estabeleceu um escritório para supervisionar os
protestos no escritório de advocacia de Covington e Burling, perto da Casa
Branca. Suas ações ao ordenar as prisões foram criticadas pela Associação
Americana de Professores Universitários, PEN America, presidente Serene

Jones do Union Theological Seminary, e pelo Columbia College Student
Council. Centenas de professores de Columbia organizaram uma paralisação e
assinaram uma carta aberta criticando sua gestão das manifestações.
O doador e ex-aluno da Columbia Robert Kraft, fundador da Fundação
Columbia para Combater o Antissemitismo, suspendeu as doações para a
universidade, assim como o bilionário Len Blavatnik, com acusações de a
Universidade Columbia não estava combatendo suficientemente o
antissemitismo no campus. Por outro lado, o Senado da Universidade de
Columbia elaborou e divulgou uma resolução de censura contra Shafik por
violar “os requisitos fundamentais da liberdade acadêmica” e causar um
“ataque sem precedentes aos direitos dos estudantes”. Em 29 de abril de 2024,
Shafik anunciou que as negociações com os manifestantes estudantis
estagnaram e que a “universidade não se despojará de Israel”. Ela solicitou a
intervenção do NYPD pela segunda vez em duas semanas no dia seguinte,
levando à prisão de mais 108 indivíduos.
Como se sabe, as reitorias de diversas universidades americanas
chamaram a polícia, e houve protestos em mais de 40 universidades. Os
protestos se espalharam para outras instituições e se tornaram um tema
importante nas eleições presidenciais, com o conflito entre manifestantes,
reitorias e opositores sendo debatido entre os candidatos Donald Trump e Joe
Biden. Nos últimos dias, os protestos estudantis relacionados a Gaza
alcançaram 140 universidades americanas, em 45 Estados, com mais de 3 mil
pessoas detidas.
Uma “professora” de Colúmbia: uma cidadã muito suspeita
Na Universidade de Colúmbia um fato importante, que não foi muito
divulgado pela imprensa corporativa, chamou a atenção. A violenta repressão
contra estudantes da Universidade de Columbia que protestavam contra o
ataque genocida de Israel à Faixa de Gaza foi liderada por um membro do
corpo docente da própria escola, de acordo com o prefeito de Nova York, Eric
Adams. O fato foi revelado em uma reportagem especial do site britânico de
jornalismo investigativo The Grayzone.

Durante um Conferência de imprensa de 1º. de maio, poucas horas
depois que o Departamento de Polícia de Nova York prendeu quase 300
pessoas em terrenos universitários, o prefeito Adams elogiou a “professora
adjunta” da Universidade de Columbia Rebecca Weiner, que é chefe do
departamento de contraterrorismo do NYPD, a responsável por dar à polícia luz
verde para reprimir com violência os estudantes antigenocídio.
“Era ela quem estava monitorando a situação”, explicou o prefeito
Adams, acrescentando que a repressão foi realizada depois que “sua equipe
conseguiu conduzir uma investigação no campus”. A poucas centenas de
metros do acampamento de protesto em Gaza, Weiner mantinha um escritório
na Escola de Relações Públicas e Internacionais (SIPA) de Columbia. Seu bio
na SIPA descreve-a como uma “Professora Adjunta Associada de Relações
Internacionais e Públicas” que simultaneamente atua como “executiva civil
encarregada do Departamento de Inteligência e Contraterrorismo do
Departamento de Polícia de Nova York”. Nessa função, de acordo com a SIPA,
Weiner “desenvolve políticas e prioridades estratégicas para o Bureau de
Inteligência e Contraterrorismo e representa publicamente o NYPD em
assuntos envolvendo contraterrorismo e inteligência”.
O mais surpreendente dessa estranha ligação é que, como cita o
Grayzone na reportagem, o Escritório de Contraterrorismo do NYPD
atualmente mantém um escritório em Tel Aviv, Israel, onde age em conjunto
com o aparato de segurança de Israel, que também mantém uma ligação com
a NYPD. A “professora” Weiner parece servir como uma ponte entre os
escritórios do Bureau em Israel e Nova York.
Em 2011 uma investigação da AP revelou que uma chamada “Unidade
de Demografia” operava secretamente dentro do Departamento de
Contraterrorismo e Inteligência do NYPD. Essa cobertura sombria era utilizada
para espionar muçulmanos no entorno da cidade de Nova York e até mesmo
estudantes em campi fora do estado que estavam envolvidos no ativismo
solidário da Palestina. A unidade foi desenvolvida em conjunto com a CIA.O
que é uma ação ilegal, pois a CIA não pode atuar dentro dos EUA. Essa
“Unidade de Demografia” parece ter sido inspirada pela inteligência israelense
também. Como um ex-oficial da polícia disse à AP, a unidade tentou “mapear o
terreno humano da cidade” por meio de um programa “modelado de forma
semelhante à que as autoridades israelenses operam na Cisjordânia”.
Ao longo da coletiva de imprensa, o prefeito Adams repetidamente
classificou a repressão da cidade ao discurso estudantil como a única solução
possível para os acampamentos em andamento no campus. Segundo o
prefeito, “os jovens estão sendo influenciados por aqueles que são
profissionais na radicalização de nossas crianças”. “É desprezível que as
escolas permitam que a bandeira de outro país seja hasteada em nosso país”, se referindo à bandeira da Palestina. A reportagem do Grayzone, no entanto,
mostra o prefeito como um participante entusiasmado no desfile anual
“Celebrate Israel” da cidade de Nova York, onde Adams agitava a bandeira de
outro país, de Israel evidentemente.

A Classe Operária se junta aos estudantes em favor da liberdade de expressão

Os trabalhadores acadêmicos sindicalizados estão exigindo poder de decisão sobre seu trabalho e para que ele é usado. Por exemplo, trabalhadores acadêmicos do departamento de astronomia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz se organizaram para se recusar a solicitar ou aceitar financiamento do Departamento de Defesa dos EUA, fabricantes de armas e empreiteiros militares. Em uma carta aberta publicada pela revista Science for the People em janeiro, eles escreveram: “A UC recebeu US$ 295 milhões em financiamento de pesquisa do Departamento de Defesa apenas no ano fiscal de 2022… A tecnologia que os astrônomos desenvolveram para a ciência está sendo mal-usada para vigiar e atingir pessoas dentro e fora dos EUA.” Para outros, as agressões da polícia aos manifestantes e os ataques dos administradores universitários à liberdade de expressão no campus tornaram-se questões de violações de contratos e segurança no local de trabalho. A Auto Workers (UAW) Local 4811, representando 48.000 trabalhadores acadêmicos em todo o sistema da Universidade da Califórnia, apresentou acusações de práticas trabalhistas injustas (ULP) contra seu empregador por ataques violentos da polícia ao acampamento de estudantes da UCLA. “A UCLA mudou unilateralmente suas políticas de liberdade de expressão no local de trabalho sem fornecer aviso ou negociação”, disse a Local 4811 em um comunicado. “Ao fazê- lo, violou sua política de neutralidade de conteúdo em relação ao discurso, favorecendo aqueles engajados no discurso anti-Palestina em detrimento daqueles engajados no discurso pró-Palestina.” O local realizará uma votação de autorização de greve durante a ULP de 13 a 15 de maio. A votação pode levar milhares de trabalhadores acadêmicos a fazer greve pela liberdade de expressão e em solidariedade ao movimento estudantil pela Palestina. “Este é um momento em que estamos vendo a importância do movimento trabalhista no avanço das causas políticas”, disse Joanna Lee, organizadora do departamento do Student Workers of Columbia, UAW Local 2710. A SWC representa 3.000 trabalhadores acadêmicos de graduação e pós-graduação na universidade. O sindicato votou para se juntar à coalizão Columbia University Apartheid Divest em novembro de 2023, depois que duas organizações estudantis, Students for Justice in Palestine e Jewish Voice for Peace, foram banidas do campus da Columbia. No UAW, houve ação tanto da base quanto da direção sindical. A UAW Região 9A realizou uma manifestação de solidariedade “Stand Up for Gaza” em 26 de abril, reunindo professores e estudantes da NYU, Columbia e The New School em apoio aos estudantes que protestavam. A manifestação terminou com uma marcha até o acampamento estudantil na NYU. O diretor da Região 9A da UAW, Brandon Mancilla, disse em entrevista à Jacobin: “Esta é uma questão estudantil, é uma questão de liberdade de expressão acadêmica – mas também é uma questão trabalhista, porque nossos membros mostraram quanto isso afeta os direitos de todos no campus, não apenas suas próprias unidades de negociação”. Os laços entre o imperialismo e os sionistas Estudantes e professores estão rapidamente reconhecendo que os eventos que se desenrolam em Gaza estão profundamente entrelaçados com a influência de grupos sionistas sobre as universidades, incentivando a colaboração com Israel. Em toda a América do Norte, essas instituições têm investimentos por meio de fundos patrimoniais de bilhões de dólares em corporações que estão apoiando ativamente os militares israelenses no genocídio em curso em Gaza. A resposta dura das universidades e das autoridades aos protestos estudantis vai além das preocupações com a ordem pública ou com o retorno financeiro. Trata-se de salvaguardar os poderosos interesses imperialistas totalmente vinculados ao sionismo internacional. Os movimentos pelo desinvestimento estabelecem uma cunha no sistema capitalista, mostrando a podridão dos que apoiam o genocídio em Gaza e seus vinculos estuturais com o imperialismo e o Estado norte americano. Os estudantes revelam as relações entre o sionismo e os interesses imperialistas atuais que estabelecem padrões de discriminação racial, apartheid e violência universais.

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