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Internacional

Nicarágua: 45 anos de Revolução anti-imperialista

Por Ricardo Rabelo

“(…) podemos assegurar que uma nova realidade se configura no mundo, onde será sepultada a hegemonia imperialista e se estabelecerá a democracia entre os povos: com respeito, soberania e cooperação, tendo em conta as assimetrias”. Comandante Daniel Ortega

Uma ruptura histórica parece a algumas pessoas como algo irracional e caótico, que não pode ser admitido como aceitável. De repente, o mundo se torna um lugar  estranho e incompreensível. Hoje em dia a ordem mundial em decadência do imperialismo não consegue admitir o seu declínio, e seus defensores julgam mais fácil imaginar  o fim do mundo do que o fim do capitalismo, aceitando até a  hipótese de uma guerra nuclear. Uma transformação emancipatória da humanidade que dê  origem a um mundo sem injustiça económica, sem exploração social, sem imperialismo  é algo inaceitável para os defensores da “ordem mundial baseada em regras” feitas por eles.

O mundo de hoje vive uma evolução contínua; os acontecimentos políticos, militares e económicos transformaram e redefiniram as estruturas de poder a nível global. O século XXI  assiste a um declínio inexorável do imperialismo norte-americano  e a emergência de um  novo polo mundial anti imperialista.  O que o capitalismo consegue produzir hoje é apenas destruição Depois do Iraque, Libia e Síria, temos a agressão selvagem e brutal  à Palestina. Os EUA e Israel e aliados gastam  bilhões de dólares para destruir hospitais, museus, igrejas, teatros, universidades de uma nação. Mesmo submetida ao apartheid racial, a Palestina  produzia ciência, cinema, literatura e música oriundos  de uma civilização autêntica e milenar. Disputam a presidência da ainda maior potência mundial um   demente e um criminoso contumaz. Regularmente, sem nenhuma razão aparente, ocorrem assassinatos em massa ou individuais,  cometidos por personalidades destruídas por um implacável sistema social. O imperialismo apresenta também a incapacidade até de manter estáveis os sistemas de informática que controlam o mundo.

De outro lado se colocam os trabalhadores de todo o mundo que, apesar de todos os obstáculos, combatem por um mundo orientado por outros padrões civilizatórios. Há mudanças significativas que alteraram  o equilíbrio da economia global, com a participação predominante da China como potência económica mundial indiscutível com foco estratégico na produção em grande escala. O seu crescimento econômico desafiou e corroeu a hegemonia ianque, ganhando terreno e prevalecendo em muitos sectores com uma posição cada vez mais relevante nos assuntos internacionais, expandindo a sua influência em diferentes regiões do mundo, através de acordos comerciais, investimentos e diplomacia ativa. Por essa razão é considerada o inimigo existencial dos EUA, que propõe que a China não produza tantos bens e tecnologia, “pois tudo isso é excessivo”.  

Para evitar o cerco a que foi submetida a Rússia é obrigada a defender a população russa  que vive na Ucrânia, e  sofre por isso milhares de sanções e , a exclusão do sistema Swift de comunicações financeiras e uma agressão militar do conjunto do imperialismo mundial. Apesar disso, graças às políticas econômicas anti neoliberais aplicadas pelo governo, recupera sua economia expande seu grau de industrialização além de se fortalecer como  um dos maiores exportadores de energia do mundo, especialmente petróleo e gás natural, aumentando a sua  influência  nas relações internacionais e no rumo da economia global.  Além disso, a Rússia apresenta-se hoje como um contrapeso à influência dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais. O seu poder militar, a sua postura independente e a sua capacidade de desafiar a ordem global existente contribuem para mostrar que há alternativas factíveis ao imperialismo.

Nicarágua: 45 anos de luta anti imperialista e  anti neoliberalismo

Neste novo contexto internacional, o Governo da Frente Sandinista da Nicarágua  é um exemplo notável de como reconstruir um pais destruído pelo neoliberalismo da direita na década de 90.

O  Comandante Daniel Ortega  afirmou  que  “…, o império norte-americano junto com os europeus (…) não querem entender que a era dos impérios já está enterrada para sempre e em vez disso, eles têm que se preparar para trabalhar num mundo multipolar.”

A participação do governo da  Nicarágua no II Fórum Econômico Eurasiático, realizado em Moscou em maio, com a participação de mais de 50 países, faz parte do estabelecimento de relações colaborativas que fortalecem a participação do país em espaços onde se estabelece a nova ordem mundial. O Comandante Daniel Ortega, nessa ocasião,  destacou a participação da Nicarágua neste Fórum para promover “(…) vínculos com a América Latina e o Caribe, (…) para que nossas economias possam se aproximar, para que nosso povo possa se aproximar e que possamos manter relações económicas com países que são potências sem que eles nos chantageiem, sem nos ameaçarem, sem nos atacarem e sem nos roubarem, porque as potências imperialistas roubam do povo, saqueiam o povo.”

A Nicarágua, hoje, é um novo país. Contrariamente à campanha internacional promovida pelo imperialismo e difundida por traidores internos em todo o mundo, inclusive no Brasil, a economia da Nicarágua  foi reconstruída depois de anos de neoliberalismo. Esses traidores formaram um novo partido o UNANOMOS, e defenderam que a revolução sandinista se adaptasse ao regime democrático burguês, e renunciasse ao socialismo. Esse  grupo foi liderado por intelectuais da antiga Direção Nacional da FSLN como Sérgio Ramirez e Dora Maria Téllez , que taxavam o grupo de Daniel Ortega de “ortodoxos” e com pouca capacidade de adaptação aos “novos tempos”, e propunham a readaptação das orientações ideológicas partidárias em sintonia com uma linha que poderia ser caracterizada claramente como social democrata. Esta última tendência enfatizou o diálogo e a concordância com o governo neoliberal de Violeta Chamorro em 1990, bem como a necessidade de moderar as posições mais radicalizadas da FSLN.

No novo governo da FSLN foram abolidas as privatizações da água e da rede de energia elétrica, investiu-se fortemente na infraestrutura de transportes e comunicações. Existe um Estado que direciona sua atividade para a população trabalhadora do país, com a eliminação do analfabetismo, a implantação do ensino público e gratuito. O sistema de Saúde tem uma estrutura moderna e eficiente, sendo universalmente gratuito como no Brasil. Em contraste , os EUA não possuem um sistema público de saúde, sendo o trabalhador norte americano obrigado a se endividar enormemente para  fazer frente a qualquer tipo de tratamento médico.

Isso tem resultado em maiores possibilidades de desenvolvimento econômico, sendo que com a China a Nicarágua participa como membro da Iniciativa Cinturão e Roda da Seda, recebendo fortes investimentos do país, que assumiu a construção do novo canal interoceânico, que poderá superar o do Panamá, já obsoleto.

A necessidade do desaparecimento do imperialismo Yankee é uma questão vital para a humanidade como um todo. A opressão, a desigualdade e a falta de justiça geradas por este sistema  minam os princípios mais fundamentais da liberdade, da dignidade humana e da soberania dos povos.

Como destacou o Comandante Daniel Ortega, “embora no império ianque sonhem com os tempos do destino manifesto, pois gostariam transformar-nos em escravos, por mais que queiram, isso não acontecerá, a Nicarágua foi libertada, o povo da Nicarágua foi libertado em 19 de julho de 1979 e nunca mais será escravo”.

As transformações da Nicarágua  Sandinista: alguns exemplos

Energia

A Nicarágua viveu uma crise energética que atingiu a sua população, durante a administração neoliberal do presidente Enrique Bolaños Geyer (2002-2007), com apagões que duraram 12 horas por dia quando a geração térmica que sustentava 80% da produção entrou em colapso devido à  privatização do setor  e o aumento do preço do petróleo.

Sede da Empresa Estatal de Energia da Venezuela

                Nos últimos 17 anos, foram alcançadas coisas que poucos países conseguiram como a  cobertura nacional de eletricidade acima de 99%. Foi estabelecida uma matriz de geração de 75% de energia renovável e 25% de base petrolífera. A capacidade instalada hoje é mais que suficiente para gerar a demanda máxima do país, que gira em torno de 800 megawatts por dia. A geração de energia renovável  se dá com as hidrelétricas , produção geotérmica e de biomassa. Aumentar a produção de energia eólica e solar é uma das principais metas traçadas pela atual administração, que busca reduzir a emissão de gases poluentes.

Segundo a Organização Latino-Americana de Energia , a Nicarágua lidera o grupo de 20 países do mundo que aumentaram seus esforços nas últimas décadas para aumentar a produção de energia renovável e assim reduzir a emissão de gases de efeito estufa.  A transformação da matriz energética está ligada à gestão liderada pelo Estado para garantir o uso soberano dos recursos naturais, além de prestar um serviço a preços acessíveis à população.

Saúde

O câncer é a terceira doença que mais afeta a população da Nicarágua, afirma o Dr. Oscar Vásquez, diretor de Serviços de Saúde do Ministério da Saúde da Nicarágua, em entrevista à Sputnik.No entanto, esta nação está entre os países com a menor taxa de mortalidade das Américas, reduzindo as mortes por 100.000 mil habitantes para 84,4 em 2019, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

A Nicarágua possui uma rede de serviços de saúde inserida num modelo “familiar e comunitário” onde o atendimento é gratuito desde 2007 , após a vitória da Frende Sandinista nas eleições. A médica Carmen Cruz, diretora do hospital Bertha Calderón, explicou que  “os cuidados oncológicos são gratuitos, toda a gestão que o doente necessita está garantida. Não só os cuidados oncológicos, mas também a conclusão dos estudos especiais, medicina interna, cirurgia geral, garantimos toda a atenção que necessitam”.

A revolução faz 45 anos

Na comemorações dos 45 anos da Revolução Sandinista, o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, defendeu a cessação do genocídio contra a Palestina: “ A [iniciativa] mais urgente para parar o genocídio contra o povo palestino, onde até o Tribunal Internacional de Justiça decidiu muito claramente; [mas] os Yankees, logicamente, não respeitam nenhum tribunal, apenas o que fazem é  aplicar a força e pela força impõem suas decisões, mas esse caminho leva ao inferno, eles deveriam entender isso”, disse o presidente centro-americano.”

Ortega afirmou que os aliados ocidentais representam uma ameaça para o mundo porque estão novamente a instalar o fascismo através de golpes de Estado como o promovido na Ucrânia, cuja guerra é alimentada pela indústria norte-americana.

“O fascismo está sendo instalado na Ucrânia e a partir da Europa, os governos europeus, a maioria deles estão fortalecendo o fascismo e alimentando uma guerra que visa tentar alcançar o que Napoleão [Bonaparte] não conseguiu, o que Hitler  não conseguiu.” ] (…) e que coloca em risco a estabilidade do mundo”, disse Ortega.

                Leia os artigos deste autor sobre a Revolução Sandinista na Nicarágua, disponíveis em:

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